
"Ao ser inoculada, a vítima deve se esforçar ao máximo para sair da água o mais rápido possível devido ao risco de choque e afogamento. Os primeiros socorros e o tratamento devem ter quatro objetivos principais: minimizar o número de descargas dos nematocistos na pele, diminuir os efeitos da peçonha inoculada, aliviar a dor e controlar sua repercussão sistêmica. O contato inicial com os tentáculos resultam primeiramente em uma modesta inoculação. Os esforços subseqüentes para desvencilhar-se dos tentáculos podem resultar em um considerável aumento nas descargas dos nematocistos. Porém, quanto mais tempo um tentáculo permanecer em contato com a pele, mais nematocistos serão descarregados. Daí a necessidade da remoção cuidadosa dos tentáculos aderidos à pele sem esfregar a região atingida, o que só pioraria a situação. A dor é em geral controlada através do tratamento da dermatite. Ainda assim, a morfina pode ser usada para aliviar a dor mais intensa. O gluconato de cálcio é recomendado para controlar os espasmos musculares. Medidas de suporte utilizadas em terapia intensiva podem ser necessárias nos casos mais graves e complicados.
A rotina no tratamento de uma vítima deve seguir os seguintes passos: A primeira medida é lavar abundantemente a região atingida com a própria água do mar para remover ao máximo os tentáculos aderidos à pele. Não utilize água doce, pois ela poderá estimular quimicamente os nematocistos que ainda não descarregaram sua peçonha. Não tente remover os tentáculos aderidos com técnicas abrasivas, como esfregar toalha, areia ou algas na região atingida. Para previnir novas inoculações __ ao desativar os nematocistos ainda íntegros e também neutralizar a ação da peçonha __, banhe a região com ácido acético a 5% (vinagre) por pelo menos 30 minutos ou até que se tenha um alívio da dor (a solução de sulfato de alumínio a 20%, hidróxido de amônia diluído, bicarbonato de sódio, urina e o soro do mamão papaia são alternativas para a falta da substâncias citada). Remova com uma pinça os restos maiores dos tentáculos e tricotomize o local com um barbeador para retirar os fragmentos menores e invisíveis. Aplique antes um pouco de espuma de barbear, talco ou mesmo farinha branca. Não havendo disponibilidade dos utensílhos ou produtos citados para a tricotomia, utilize uma pasta de areia ou lama misturada com a água salgada e raspe o local com uma concha ou um pedaço de madeira com a borda afiada. Reaplique novos banhos de ácido acético. Caso a dor continue, use substâncias sedativas sistêmicas ou bolsas de gelo locais para reduzir os sintomas álgicos. Aplique uma camada fina de hidrocortisona (0,5 a 2%) duas vezes ao dia. Nas reações inflamatórias mais graves utilize anti-histamínicos e corticóides orais. Em caso de infecção secundária use antibióticos com amplo espectro, tópico ou sistêmico, de acordo com a gravidade. Para as lesões e escoriações provocadas pelos corais vivos, os procedimentos devem ser: Banhe vigorosamente a região para remover todo o material estranho aderido e depois lave bem a ferida com água e sabão. Havendo algum corte mais profundo não se deve suturá-lo, pois a ferida costuma infeccionar. Aplique uma pomada antisséptica e cubra com uma bandagem tipo gaze. Troque o curativo diariamente. Mesmo com uma boa assepsia da região, a ferida costuma apresentar cicatrização lenta com moderada a severa inflamação e ulceração. Todo o tecido superficial morto deve ser debridado regularmente até que se tenha a formação de um tecido granulado e sadio. Havendo infecção secundária, utilize antibiótico com amplo espectro, tópico ou sistêmico, de acordo com a gravidade."
* Marcelo Szpilman é Biólogo Marinho, Diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor do Informativo do Instituto e autor dos livros Guia Aqualung de Peixes e Seres Marinhos Perigosos.
Fonte de pesquisa: http://www.institutoaqualung.com.br/info_seres_perigosos05.html