Sempre nas aulas de surf que ministramos na Escola de Surf Itararé na parte terócia falamos de correntes de retorno, ondulções, forças, ventos etc...
Nossos alunos acabam aprendendo noções de vetores matéria que estadaram ou estudarão no colégio nas aulas de Física de uma forma prática.
Lendo a coluna do www.waves.com.br essa semana me deparei com texto que fala exatamente sobre essa relação Surf X Física.
Segue o texto do referido site:
Muitas Águas
Da teoria à prática
A teoria aplicada à prática é o melhor dos estudos!
Esta não é nenhuma daquelas frases que a gente vê em algum lugar e às vezes até anota para não esquecer, é apenas uma conclusão de algo que vou contar nas próximas linhas.
Como muitas e muitas crianças, pré e adolescentes, tive uma passagem regular pelos estudos. Cursei todo o primeiro e o segundo grau e posteriormente fiz faculdade, tirando notas medianas.
De longe não era um crânio, mas de longe (espero) não era uma negação. Apenas confesso que em muitos momentos me questionava o porquê de tanta informação que aparentemente julgava “inútil”.
Prepotência minha, pois além de desenvolver minha “massa craniana” e testar a paciência de meus pais com tantas queixas de alguns professores ao relatar minha falta de atenção (ah, o surf entrou cedo em minha vida!) as matérias viriam a servir, mais adiante para fins que eu nem imaginava, inclusive o surf, quem diria?
Uma das matérias que mais tinha dificuldade era Física. Aliás, as ciências ditas exatas, me davam um nó na cabeça! Em uma das aulas aprendemos sobre vetores: V1, V2, forças resultantes, etc…
Acabei tirando apenas a nota que precisava para passar de ano (raspando). Mas o mais interessante estava por vir: alguns anos depois, após muitas e muitas ondas surfadas, deparei-me com um mar bem grande na praia da Joaquina, quando recém me mudei para Floripa (SC) em 1988.
Brother, não ia ser minha remada que me levaria para o outside, mesmo com o preparo da minha juventude na época. O swell estava de responsa! Alguns se arriscavam pulando das pedras, mas nem todos conseguiam de fato chegar ao outside e dropar as morras.
Foi quando uma luz se acendeu em minha massa craniana. Bingo! As benditas aulas de Física! Gostaria de dar um abraço forte naquele professor que na época tanto temia. Agora tudo se encaixava em meus pensamentos. Vetores!
Sim, os vetores me levariam para o outside da Joaquina. Aquela força resultante de que tanto foi falada em sala de aula. Comecei a “estudar” as forças da correnteza e vi que se eu tentasse ir contra a V1 (vamos assim chamar) da correnteza na Joaquina, minha V2 me colocaria na praia em segundos!
Então tentei “calcular” uma maneira de que a resultante fosse para o outside. Notei a corrente da água que se formava retornando para fora a alguns metros à frente da Pedra Careca. Usando esta força e mais a de meus esforçados, porém limitados braços, e com alguma sorte de não pegar nenhuma série varredora, estaria em alguns minutos lá fora, sentado em minha gunzeira, esperando a hora de dropar minhas esquerdas.
Mas a teoria deveria ser testada e para testá-la ainda mais, esperei um brother começar a ir para o costão de onde se jogaria tentando a sorte para varar a arrebentação na menor distância. Então fui mais pro meio da praia, depois da Careca, onde eu havia visto a marca das espumas. Parecia uma loucura encarar aquela situação.
Apenas acreditei com todas minhas forças e fui passando aos poucos, onda por onda. Pedi a Deus para nenhuma série monstruosa me deter e passo a passo, ou melhor, remada a remada, a praia foi ficando distante e meu alvo mais perto.
Comecei a ver as ondas estourando no outside e para minha surpresa meu amigo apenas naquele momento pulava no mar, pois aguardara uns bons minutos até sentir confiança para se jogar em frente ao temido costão.
Assim passei raspando (como em minhas notas de Física) por algumas ondas bem, grandes. Foi quando finalmente sentei lá fora e falei para mim mesmo: meu Deus, viva a Física e o cérebro que o Senhor me deu, e também ao professor que me ensinou Vetores!
Depois, conversando com meu amigo, ele falou: “Por onde você entrou, pois não te vi nas pedras?”.
"Pela praia", disse. "O quê?", respondeu ele. Completei: "Vetores brother, vetores…".
"Ahhhhh?", admirou-se. "Foi quando entrou uma série lá fora e falei: "Depois te explico, vamos lá pegar nossas ondas".
Para completar este texto, gostaria de deixar uma meditação neste começo de ano. Também na vida, muitas vezes forças assustadoras me impeliram para ficar na praia ou ser jogado para fora do mar. Foi quando vi que, por menor que eu seja e por maior que sejam as circunstâncias adversas, quando a Força Maior, a Força Divina, entrou em ação, a resultante foi sempre para me levar pra frente, em direção às ondas que eu sempre sonhei.
Em 2010, sonhe, acredite, Deus pode te levar até lá! Grande abraço a todos,
Motaury Porto Filho
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